Ondas da sustentabilidade

24 de julho de 2013

– Inaugurado em março deste ano, o Museu de Arte do Rio está prestes a ser o primeiro do Brasil com selo LEED –

Por Amanda Santana

Ao pensar na cidade do Rio de Janeiro, é inevitável vir à mente a imagem de suas belas praias com os famosos calçadões, a areia branca e o tão encantador Oceano Atlântico. Essa invejável paisagem serviu de inspiração para a criação de uma obra prima da arquitetura brasileira, de grande importância artístico-cultural e com um nome bastante propício: MAR – Museu de Arte do Rio.

Pertencente ao projeto Porto Maravilha, que está sendo realizado na zona portuária carioca, esse novo aparelho cultural foi inaugurado em março deste ano e abriga o Pavilhão de Exposições e a Escola do Olhar, dois prédios bastante diferentes que foram harmoniosamente ligados.

O primeiro, o Palacete Dom João IV, inaugurado em 1916 e tombado no ano de 2000 pelo Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Cultural, possui 5,2 mil metros quadrados de área construída, hoje, divididos em quatro pavimentos, com oito galerias, que juntas somam 2,4 mil metros quadrados de área expositiva e são ocupadas por mostras temporárias. O segundo trata-se do prédio em que funcionou o Hospital da Polícia Civil, com o total de 7,2 mil metros quadrados de área construída e sete pavimentos (incluindo o térreo). Agora, é um ambiente voltado principalmente para a formação continuada de educadores das escolas da Prefeitura do Rio de Janeiro.

Diante de construções com características e finalidades tão distintas, a equipe do escritório de arquitetura carioca Bernardes + Jacobsen teve um grande desafio. “Precisávamos conectar no projeto duas construções antagônicas, estabelecendo uma harmonia entre elas. Para conseguir isso, demos ao prédio da Escola do Olhar uma estética mais contemporânea e neutra. Os dois prédios foram ligados por um terceiro elemento, poético e carregado de significado, que é a cobertura fluida”, conta o arquiteto Paulo Jacobsen.

 

Cobertura

Reproduzindo as ondas do mar, a grande cobertura fluida do museu, que liga os dois prédios do complexo, foi projetada por cerca de um ano, período em que foi realizado seu planejamento e os estudos da viabilidade de sua execução. Depois de descartadas as opções de fôrmas de madeira ou pré-moldadas em concreto, por não permitirem a perfeita ondulação, a equipe de arquitetura encontrou o isopor EPS como material viável para a confecção da fôrma. Segundo Lucia Basto, gerente geral de patrimônio e cultura da Fundação Roberto Marinho (FRM), esse tipo de isopor é utilizado na construção civil por resistir à compressão de mais de uma tonelada por metro quadrado e ser um material maleável.

Lucia ainda ressalta outros pontos positivos no uso do isopor: as fôrmas foram confeccionadas nos galpões das escolas de samba, que também estão localizadas na região portuária, e foi aproveitada a mão de obra dos escultores das escolas, especializados no uso desse material. O arquiteto Paulo conta que 33 profissionais das escolas de samba, coordenados pelo artista plástico e artesão Carlos Lopes, participaram da equipe dessa “solução bem carioca”, como define.

Foram necessárias, ainda, 13 horas consecutivas de trabalho, 90 profissionais, 70 toneladas de aço galvanizado e 40 caminhões (ou 320 metros cúbicos) de concreto para construir essa cobertura que possui 800 toneladas e tem uma área de cerca de 1,65 mil metros quadrados e espessura de 15 centímetros.

 

Certificação

A construção do museu, além de ser bastante diferenciada em relação aos projetos arquitetônicos brasileiros, possui qualidades que vão além da beleza estética. Com vistas na certificação ambiental expedida pelo United States Green Building Council (USGBC), todo o projeto do complexo, bem como a execução das obras, teve características sustentáveis que deverão, no segundo semestre deste ano, tornar o MAR o primeiro museu brasileiro a receber a certificação LEED. A expectativa é que seja conquistado o selo LEED NC – Major Renovations, em nível Silver, de acordo com a arquiteta Cibele Romani, consultora de projetos sustentáveis do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE) e coordenadora do projeto MAR.

“Para a Fundação Roberto Marinho, a conquista do selo LEED é muito importante, sem dúvida. Só que mais do que isso, a nós interessa estabelecer internamente a cultura da construção verde, difundi-la entre nossos fornecedores e parceiros e implementá-la em outros projetos”, afirma a gerente de patrimônio e cultura da FRM. A Fundação também é responsável por outros dois importantes aparelhos culturais que serão inaugurados em breve e buscarão a certificação, o Museu do Amanhã e o Museu da Imagem e do Som (MIS).

 

Restauro

Bem antes da construção da cobertura fluida, que ocorreu em maio do ano passado, as obras do MAR foram iniciadas, em março de 2010, com a restauração das fachadas do prédio que hoje abriga o Pavilhão de Exposições, por meio do projeto concebido pela Velatura Restaurações e executado pela Ópera Prima Arquitetura e Restauro. Arquitetos, restauradores, pedreiros, estucadores, carpinteiros e pintores fizeram parte da equipe que, durante um ano e seis meses, encarou o desafio de descobrir a cor original da fachada do prédio, escondida sobre muitas outras camadas de tinta. O restauro também foi feito em portas e janelas, nos ornamentos da fachada, na cimalha, na cúpula e em outros elementos do edifício.

“Acredito que um dos maiores diferenciais do MAR é o fato de ser um retrofit. Esse projeto é a comprovação de que é possível mudar sem ter que destruir o existente. É um símbolo de respeito à natureza e à história e não despreza aquilo que já foi construído”, afirma a consultora do CTE, Cibele.

 

Sustentabilidade

Projetado de forma a garantir a acessibilidade aos espaços do prédio, o MAR conta com elevadores espaçosos e rampas, além de sinalização podotátil. Materiais e técnicas sustentáveis também estão presentes na cobertura do prédio e nos espaços dentro do museu.

A gestão de resíduos foi fundamental para a realização sustentável da obra. O isopor usado na confecção das fôrmas da cobertura fluida, por exemplo, foi reutilizado, de acordo com Felipe Menezes, engenheiro da Concrejato, construtora responsável pelas obras. “Com o empenho da equipe, conseguimos dar dois destinos para os resíduos de isopor. Os pedaços grandes foram reaproveitados para confecção de alegorias de escolas de samba do Rio de Janeiro, já os flocos menores e os pequenos pedaços foram doados para fábricas de pufes”, conta o engenheiro.

Quando falamos em gestão de resíduos, a destinação final dos mesmos é um item indispensável. No caso do MAR, aterros legalizados e reciclagem fizeram parte desse processo. Lucia Basto conta que foram realizadas palestras educativas para os funcionários e implantados a fiscalização e o acompanhamento das obras pelos consultores LEED. Espaços para separação de resíduos e controle da utilização de materiais tóxicos também foram criados.

No dia a dia das obras, foi realizada a aspersão de gotículas de água nos ambientes durante as demolições para redução da poeira em suspensão, além de instaladas proteções nos ralos boca de lobo para impedir que resíduos de obras fossem arrastados para a rede coletora de águas pluviais, de acordo com Felipe.

Com o intuito de reduzir a quantidade de resíduos na obra, o piso de madeira existente no museu foi reaproveitado. Com isso, apenas em algumas áreas foi necessária a substituição. Tanto para o piso, quanto para portas e corrimãos, foi usada madeira de reflorestamento certificada pelo Forest Stewardship Council (FSC). Já os pisos, carpetes e forros contam com conteúdo reciclado em sua composição.

Para a redução no consumo de água, o projeto buscou especificação de metais com redução de consumo de água e o reaproveitamento de águas de chuva, para uso nas bacias sanitárias e no paisagismo, que conta com um jardim no nível térreo com cerca de 240 metros quadrados, segundo Maria Fátima Leite Ferreira, diretora da Engineering. Cibele Romani explica que o edifício capta água da chuva suficiente para atender em 100% a demanda das bacias sanitárias, o que gera aproximadamente 70% de economia no consumo de água potável. Em relação às áreas verdes, a consultora do CTE conta que a presença no espaço é pequena, pois o lote já era ocupado pelos dois edifícios reaproveitados, mas ressalta que a Praça Mauá será reformada e ganhará um novo projeto paisagístico com áreas verdes que se integrarão ao complexo.

A economia de energia esperada é de 20%, de acordo com Lucia Basto. Para isso, são utilizados lâmpadas e reatores de alta eficiência, controle das luminárias por meio de sensores, bombas de alta eficiência, controle individual do acionamento de ar-condicionado nas salas da Escola do Olhar e aproveitamento da iluminação natural com cortinas de vidro, utilizando películas de UV e de controle de incidência solar. Contudo, Cibele explica que o museu não possui grande aproveitamento de ventilação e iluminação natural devido ao controle rigoroso da climatização interna demandada pelas obras de arte.

Na Escola do Olhar, a luz natural é aproveitada por meio dos painéis de vidro autoportantes, chamados C-Glass, que auxiliam na iluminação dos ambientes barrando boa parte dos ganhos térmicos, pois sua camada interna de ar funciona como isolante térmico e acústico. “Outra vantagem deste vidro é que, devido à sua composição translúcida, semelhante a do vidro impresso, garante uma iluminação difusa, ou seja, diminui problemas com ofuscamento e distribui a luminosidade de forma mais uniforme”, destaca Cibele.

Já as janelas operáveis contribuem para a ventilação natural, juntamente com as varandas criadas em alguns andares dos corredores, possibilitando a ventilação cruzada nas salas de aula.

Outra parte do museu que colabora com a climatização do edifício é a cobertura fluida do MAR. Isso porque, além de contribuir para o sombreamento do edifício, a cobertura foi pintada na cor branca, com tinta de alta refletância, auxiliando na diminuição do efeito de ilhas de calor na cidade e da necessidade de refrigeração mecânica dos pavimentos inferiores.

 

Transformação social

Transformar a sociedade por meio da cultura é uma aposta de diversos movimentos País afora. O MAR está dentro desse contexto junto com o projeto Porto Maravilha, que busca a requalificação urbana da região em que o museu está inserido. “O MAR representa a primeira grande entrega do processo de renovação da região portuária. Nesse sentido, já representa um ícone de agitação cultural numa área que, anteriormente, não apresentava esse tipo de atrativo para o grande público da cidade”, declara Carlos Gradim, diretor-presidente do MAR.

Carlos ainda afirma que o MAR tem diversas funções sociais, uma delas é a finalidade de ser um espaço para o reconhecimento e a pesquisa de manifestações culturais e artísticas que estabeleçam relação com o Rio de Janeiro. “A Escola do Olhar toma a cidade como um disparador de questões em sua dimensão urbanística, social, histórica e, por que não no futuro, ambiental”, conclui.

 

Ficha Técnica:

-Localização: Praça Mauá, 5 – Rio de Janeiro – RJ
-Área total: 15.000 m²
-Investimento total: R$ 79,5 milhões
-Data de inauguração: março de 2013
-Realização: Prefeitura do Rio de Janeiro e Fundação Roberto Marinho
-Gerenciamento de projetos: Engineering SA Serviços Técnicos
-Arquitetura: Bernardes + Jacobsen Arquitetura
-Construtora: Concrejato
-Consultoria de sustentabilidade: CTE – Centro de Tecnologia de Edificações
-Concepção estrutural: GOP – Gabinete de Organização e Projetos
-Cálculo estrutural: Cerne Engenharia e Projetos Sociedade
-Consultoria técnica e controle de qualidade do projeto de estrutura: Engeti Consultoria e Engenharia
-Consultores de estrutura: Bruno Contarini e Gilberto do Valle
-Desenvolvimento do traço do concreto: WG Côrrea Consultoria de Engenharia Civil
-Drenagem e SPDA: Instal Engenharia

 

Fonte: Revista Green Building – Edição 06

Via Revista Green Building

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